Há
tempos Tancredo queria acabar o namoro com Danusa, mas não conseguia. Além de persistente, ela era imbatível no uso
das palavras. Apesar disso ele resolveu fazer mais uma tentativa:
-- Está tudo
acabado entre nós.
--
Tudo o quê? O que houve foi tão pouco... Se você se precipitar, pode se
arrepender.
--
Não vou me arrepender. Sei disso.
-- Sabe disso agora, mas arrependimento
não ocorre antes. Vem depois. E quem sabe o que nos reserva o futuro?
Disse isso com
um ar sombrio e reflexivo, que assustou Tancredo. Mas desta vez ele parecia
decidido:
--
Não dá mais. Nosso namoro perdeu a graça.
-- Bom sinal. Isso quer dizer que ficou
sério.
-- Não falo de “graça” riso. Falo de
“graça”... empolgação. Não existe mais o prazer da novidade. Ficou tudo muito
previsível.
--
Exagero seu -- protestou a moça. -- Aposto que você não sabe a surpresa que eu
ia lhe fazer hoje.
--
Surpresa?! Qual?
--
Ia lhe convidar pra gente ir ao shopping assistir um filme e depois comer
pizza.
--
Mas a gente faz isso o tempo todo!
--
Por isso eu disse que “ia” lhe fazer a surpresa. Como sei que você não suporta
esse programa, desisti de propor a ideia. Viu como lhe conheço bem?
Tancredo
suspirou, já se dando por vencido. Cada vez mais se convencia de que, se
quisesse acabar tudo, tinha que ir embora sem dar explicações
--
Está bem... Vamos esperar mais um pouco.
--
Que foi que eu disse? Você ia se arrepender...
Ficou
um tempo pensativa:
--
Só lhe peço uma coisa. Se um dia resolver mesmo me deixar, avise antes. Acho
horrível esses casais que vão embora em silêncio, como se nunca tivesse havido
nada entre eles. Você promete antes conversar?
--
Prometo.
-- Eu juro, juro que sempre vou respeitar suas
decisões!
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