Os
que acreditam na influência dos astros em suas vidas devem estar chateados com Parke
Kunkle, professor de uma instituição americana. Segundo ele, conforme leio em
Veja, “está errada a interpretação dos movimentos celestes usada pela
astrologia para determinar os signos de acordo com a data do nascimento das
pessoas”. Isso porque os mapas astrológicos, produzidos 3.000 anos atrás, estão
há muito defasados.
Com
a mudança no posicionamento do eixo da Terra, uma pessoa que se imaginava
capricorniana, por exemplo, é na verdade de Sagitário. Um suposto taurino, como
eu, pertence ao signo de Áries.
Sem
querer ser presunçoso, confesso que no íntimo eu desconfiava disso. Sentia
certo descompasso entre o meu modo de ser e o desenho do meu signo, que me
colocava sob a égide de um touro (bicho grosso e intratável), quando em minha
alma pasta um cordato carneirinho. Não exagero se disser que essa foi uma das
razões para eu nunca ter dado muita importância aos astrólogos. Sempre confiei
mais nos genes e na força das circunstâncias.
Imagino
a angústia que esse quiproquó planetário está causando na cabeça daqueles que
programam suas vidas conforme o alinhamento da Terra em relação às estrelas.
Eles têm na cartografia celeste um roteiro que, revelando-se ou não acertado,
lhes serve de guia. Alguns a primeira coisa que fazem, antes de sair da cama, é
consultar o horóscopo para ver se devem ou não fechar um negócio, fazer uma
viagem, iniciar um caso amoroso. De repente vem esse professor e os deixa sem
chão, ou melhor, sem céu em que possam ver delineado seu mapa existencial.
Não
deixa de ser estranho achar que Marte, Vênus ou alguma daquelas constelações
distantes tenham a ver com o emprego que devemos assumir, a roupa que devemos
vestir ou a mulher com quem devemos nos casar. Crer nisso não tem fundamento,
mas para muitas pessoas faz todo o sentido. O mecanismo pelo qual tais crenças
lhes parecem coerentes é o mesmo que fundamenta as religiões; explica-se pelo
desejo de fugir ao desamparo, à incerteza quanto ao futuro e, sobretudo, ao
medo da morte.
Ninguém
pense que a descoberta de Kunkle vai mudar a crença de quem depende dos astros
para conseguir a paz interior. Desde quando se crê em alguém, ou em alguma
coisa, com base em evidências racionais? A razão serve de esteio para o que se
conhece, e não para aquilo em que se acredita. O fermento da ciência é o saber;
o da crença é a ilusão.
No máximo os adeptos da astrologia farão um
pequeno ajustamento em seus signos -- e há os que vão continuar lendo as
previsões segundo a fórmula antiga. Se
mudou o lugar das constelações, endireite-se o eixo da Terra, corrija-se o
cosmo. O importante é que, ao acordar, eles possam iniciar o dia com a certeza
de que farão as escolhas certas. E, sobretudo, de que alguma força
transcendente os protege contra as armadilhas do acaso.
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