“Hospital Albert
Einstein libera bichos de estimação para pacientes em São Paulo” (Portal UOL)
Certa manhã,
Casimiro se sentiu mal. O médico da família foi chamado às pressas:
-- Princípio de
AVC. É preciso internar agora.
-- Ele vai ficar
bom? – quis saber Clotilde, apavorada.
-- A evolução
depende muito dos hábitos de vida do paciente.
Casimiro não
cometia excessos, mas também não era nenhum estoico. Fazia o que a maioria faz.
Uma cervejinha nos fins de semana, vez por outra uma feijoada, doces com alguma
moderação. Para não dizer que não fazia exercícios, combatia o sedentarismo caminhando
todos os dias com o seu cão, Aladim.
Colocaram-no
numa cama cercada por toda aquela parafernália de soro, ressuscitador, balão de
oxigênio. O homem não estava morto, mas não dava sinais de vida. Vivo estava,
sem dúvida, mas numa letargia que parecia pressagiar a morte. Clotilde,
chorosa, segurava a mão branca e inerte do marido. A família se revezava para
que sempre houvesse alguém no quarto.
Passaram-se uns
dias, e o doente nada de acordar. Então o filho teve a ideia:
-- Por que a gente não traz Aladim para
visitar ele?
-- Aladim?! Que loucura, Pedro! -- estranhou
a irmã mais nova. O rapaz ponderou que o
doente e o animal eram muito ligados. E desde que Casimiro adoecera, o cachorro
andava triste pela casa. Parecia adivinhar a desventura do dono.
Terminou convencendo o resto da
família e se dispôs a trazer o cão. Na tarde seguinte, botou-lhe a coleira e
foi com ele ao hospital. Aladim ficaria
em seus braços; não podia correr o risco de que latisse naquele lugar.
Quando entraram
no quarto, Clotide e o resto da família fixaram os olhos no animal. Tinham uma
curiosidade, entre cômica e aflita, de saber como ele reagiria. Sofreria tanto
quanto eles? Ou mais?
Ao ver o dono, o
cão ganiu melancolicamente. Mirou os olhos cerrados do doente e encostou o
focinho em sua mão. Foi aí que as pálpebras de Casimiro se mexeram.
-- Mãe, papai
está acordando! – gritou a outra filha.
-- Eu vi, eu vi! -- agitou-se Clotilde.
-- Foi por causa de Aladim -- completou
Pedro, triunfante.
Decidiram trazer
o cachorro mais vezes. Já não havia dúvida de que, quando Casimiro o via,
esboçava algum tipo de reação. Uma tarde, quando o animal cheirava-lhe o braço,
o dedo indicador do doente se elevou. Parecia querer acariciá-lo.
Casimiro não voltava a si, mas não piorava. Era
como se estivesse preso à vida por uma coleira invisível. O hálito do animal em
sua pele, testemunho de uma eterna gratidão, parecia acordar nele antigas
lembranças. E de alguma forma o ajudava a se manter vivo.
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