A
família está vivendo em função de Luiz Guilherme. Com pouco mais de três meses de vida, esse
meu neto tem sido o centro das atenções. Acho que poucas celebridades foram
mais fotografadas, divulgadas, expostas à admiração pública quanto ele. Também
pudera. Vivemos em tempos de ultrassom e Facebook, quando a imagem das pessoas
começa a ser captada e a circular muito cedo. A de Luiz Guilherme começou a ser
visualizada no tempo em que ele era um embrião.
O bebê tem um séquito numeroso, que
acompanha com enorme expectativa as suas mínimas reações. Se chora, logo se
especula sobre o motivo do choro – está aborrecido, desconfortável, com raiva
de alguma coisa? Terá gases, cólica, dor de ouvido? Não parece haver uma causa
específica; ele chora porque está vivo e essa é a linguagem dos bebês, que não
têm outra forma de manifestar protestos ou contrariedades. “Choro, logo sou” é
o seu modo de afirmação existencial.
Mas nem tudo são protestos e lágrimas.
Há momentos alegres, como o do banho, que não deixamos de bisbilhotar. Nos
postamos em volta da banheira para ver o prazer que ele sente quando a água lhe
passa sobre o corpo. Ficamos assustados se o líquido, atingindo o nariz, quase
o faz perder o fôlego (mas é alarme falso, está tudo bem...).
Ao
banho sucede a troca de roupa; ele é então colocado num sofá e, enquanto
espera, agita incessantemente braços e pernas (um feito que só os bebês
conseguem). Os movimentos intensos por vezes fazem emergir algum líquido ou sólido
que não estava no roteiro. Isso obriga a um novo ritual de limpeza, que minha
filha enfrenta com risonha disposição.
Um
motivo de discussão na família é definir com quem ele se parece. Embora seus traços ainda sejam indistintos,
não falta quem se reconheça no nariz, na boca ou na testa. Outros se veem no
riso ou no olhar. Indiferente a tudo isso, Luiz Guilherme segue com sua fome e
seus balbucios, exercendo olimpicamente o seu reinado (Sua Majestade, o
Neném!).
Cabe
a nós, entre curiosos e fascinados, acompanhar seus movimentos e expressões.
Nem quando está dormindo ele se livra do cerco da família, que contempla o seu
sono como quem assiste ao repouso de um guerreiro. Um guerreiro cuja conquista
– a vida – de tão recente ainda nos deixa fascinados.
Nesses
momentos gosto de imaginá-lo no futuro, rapaz e depois adulto, enfrentando
lucidamente o dia a dia. Agora já com os traços definidos – mais um de nós. E
me ocorre um pensamento um tanto mórbido: até quando o verei crescer?
Felizmente
é fácil enxotar essas sombrias elucubrações. Basta que ele chore e seja preciso
botá-lo no braço. O gesto é o de trinta anos atrás, quando o nenê era a mãe
dele. Procuro reproduzir a forma de ninar, mas percebo que já não levo tanto
jeito. Ainda assim, meio a duras penas, consigo fazê-lo sorrir. Seu riso é o
mesmo de outrora e me traz uma confortável sensação de eternidade.
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