terça-feira, 3 de maio de 2016

Não é mole!

       A impotência é um terrível fantasma para os homens (tão fantasma, que geralmente aparece à noite). Não adianta querer fugir, pois algum dia eles terão que enfrentar essa dura (ou, mais propriamente, mole) realidade.
      Antigamente se ridicularizavam os que não conseguiam obter ereção, mas felizmente os tempos mudaram. Hoje se aceitam mais essas pessoas. Concorreu para isso a influência do politicamente correto, que baniu termos como “brocha”; falar em “disfunção erétil” é mais elegante. Infelizmente, não basta uma designação pomposa para acabar com um estigma. O tabu permanece, por isso quem passa pelo problema tende a escondê-lo. Há quem o esconda da própria mulher.
O preconceito é tão grande, que nunca se ouviu falar em uma Associação dos Impotentes Anônimos. Uma possível razão para isso é que seria constrangedor dar depoimentos públicos explicando como tudo começou. As pessoas sentiriam vergonha, pois uma coisa é falar de drogas, fobias, complexos -- outra é relatar os contratempos decorrentes de um membro flácido (e numa sociedade machista como a nossa).  Aos que passam por essa constrangedora situação não resta sequer o recurso de fingir, que a natureza concede às mulheres.  
O problema da impotência é que ela vem quando menos se espera -- e também quando se espera demais. Daí se aconselhar à companheira que não fique muito tempo escolhendo a lingerie ou removendo a maquiagem. Ninguém sabe com que cara ela irá aparecer e, se a remover demais, poderá perder parte dos encantos e se tornar menos desejável. 
Devem-se evitar desculpas do tipo “isso nunca me aconteceu”, pois elas podem ferir o orgulho da parceira, que se perguntará: “E por que acontece logo quando ele está comigo?”. Ela vai desconfiar de que o homem, ou mente, ou teme inaugurar uma cadeia de fracassos. É melhor “assumir” e prometer consultar um especialista. O tipo de especialista ele decide em comum acordo com ela; é aconselhável começar com um médico e só depois, caso o problema persista, apelar para gurus, quiromantes, pais de santo e quem mais possa trazer esperança.
O importante é que os membros do casal enfrentem a situação juntos. Não vale mandar o outro se virar -- mesmo porque o problema não é de posição. É, antes, de disposição. Recomenda-se que os dois procurem estratégias para apimentar o relacionamento. Mas cuidado: um casal amigo meu exagerou tanto nisso, que terminou com gastrite. O almejado ardor de outros tempos acabou incidindo em outra parte do corpo, e o jeito foi procurar um gastroenterologista.
         Existem recursos para tornar o relacionamento mais... picante. Entre eles estão alimentos como o gengibre, o alho e o clássico ovo de codorna. Aconselha-se não os ingerir muito próximo à relação, pois eles estufam a barriga. Outro recurso é a literatura. O pessoal tem elogiado muito o livro “Cinquenta tons de cinza”, mas ele só vai adiantar se os interessados tiverem à mão alguns dos apetrechos citados na obra. Não poderia haver coisa pior do que tentar seguir as sugestões da autora e, na hora h, ver que se tinha esquecido a coleira, as algemas ou o chicote.

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