A impotência é
um terrível fantasma para os homens (tão fantasma, que geralmente aparece à
noite). Não adianta querer fugir, pois algum dia eles terão que enfrentar essa
dura (ou, mais propriamente, mole) realidade.
Antigamente se ridicularizavam os
que não conseguiam obter ereção, mas felizmente os tempos mudaram. Hoje se
aceitam mais essas pessoas. Concorreu para isso a influência do politicamente
correto, que baniu termos como “brocha”; falar em “disfunção erétil” é mais
elegante. Infelizmente, não basta uma designação pomposa para acabar com um
estigma. O tabu permanece, por isso quem passa pelo problema tende a
escondê-lo. Há quem o esconda da própria mulher.
O
preconceito é tão grande, que nunca se ouviu falar em uma Associação dos
Impotentes Anônimos. Uma possível razão para isso é que seria constrangedor dar
depoimentos públicos explicando como tudo começou. As pessoas sentiriam
vergonha, pois uma coisa é falar de drogas, fobias, complexos -- outra é
relatar os contratempos decorrentes de um membro flácido (e numa sociedade
machista como a nossa). Aos que passam
por essa constrangedora situação não resta sequer o recurso de fingir, que a
natureza concede às mulheres.
O
problema da impotência é que ela vem quando menos se espera -- e também quando
se espera demais. Daí se aconselhar à companheira que não fique muito tempo
escolhendo a lingerie ou removendo a maquiagem. Ninguém sabe com que cara ela
irá aparecer e, se a remover demais, poderá perder parte dos encantos e se
tornar menos desejável.
Devem-se
evitar desculpas do tipo “isso nunca me aconteceu”, pois elas podem ferir o
orgulho da parceira, que se perguntará: “E por que acontece logo quando ele
está comigo?”. Ela vai desconfiar de que o homem, ou mente, ou teme inaugurar
uma cadeia de fracassos. É melhor “assumir” e prometer consultar um
especialista. O tipo de especialista ele decide em comum acordo com ela; é
aconselhável começar com um médico e só depois, caso o problema persista,
apelar para gurus, quiromantes, pais de santo e quem mais possa trazer
esperança.
O
importante é que os membros do casal enfrentem a situação juntos. Não vale
mandar o outro se virar -- mesmo porque o problema não é de posição. É, antes,
de disposição. Recomenda-se que os dois procurem estratégias para apimentar o
relacionamento. Mas cuidado: um casal amigo meu exagerou tanto nisso, que
terminou com gastrite. O almejado ardor de outros tempos acabou incidindo em
outra parte do corpo, e o jeito foi procurar um gastroenterologista.
Existem recursos para tornar o
relacionamento mais... picante. Entre eles estão alimentos como o gengibre, o
alho e o clássico ovo de codorna. Aconselha-se não os ingerir muito próximo à
relação, pois eles estufam a barriga. Outro recurso é a literatura. O pessoal
tem elogiado muito o livro “Cinquenta tons de cinza”, mas ele só vai adiantar
se os interessados tiverem à mão alguns dos apetrechos citados na obra. Não
poderia haver coisa pior do que tentar seguir as sugestões da autora e, na hora
h, ver que se tinha esquecido a coleira, as algemas ou o chicote.
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