Propinildo
Caixadois, para quem não se lembra, é aquele primo de Justo Veríssimo que se
elege deputado há várias gerações. Ele já perdeu a conta de quantas vezes se
candidatou (mas não de quanto ganhou durante os mandatos) e vai novamente
pleitear uma vaga no Legislativo.
Conversamos
na sacada da sua nova cobertura de cinco quartos, todos suítes, inclusive o da
empregada (“É preciso tratar bem os pobres.”). O apartamento foi caríssimo, e
ele não sabe se conseguirá quitá-lo (“Isso vai depender da vontade do
povo...”). Começo a entrevista:
--
Deputado, qual a sua filosofia de campanha?
--
Meu governo é socialista, mas com uma ligeira adaptação. Transformamos o “Tudo
pelo social” em “Tudo pelas socialites”.
--
Pelas socialites? E com que objetivo?
--
Enaltecer o valor dessas bravas e caridosas mulheres. Os chás, almoços e
jantares beneficentes que elas promovem melhoram as condições de vida de muita
gente.
--
Mas elas pouco se preocupam com o regime!
--
Aí é que você se engana; o regime é a maior preocupação delas. A maioria vive
em dieta. E não são poucas as que arriscam a vida em cirurgias de lipoaspiração
para melhorar a silhueta.
--
Qual a sua plataforma para a educação? O senhor é a favor, por exemplo, do
ensino a distância?
--
Plenamente a favor. Para mim, os alunos devem ficar o mais possível distantes do
ensino. Livro demais prejudica a inteligência e faz pensar besteira.
--
E quanto ao nepotismo? Qual a sua opinião?
--
Essa prática tem sido mal compreendida e injustamente criticada. O nepotismo é
uma virtude. Ele confirma o apreço que nós, políticos, temos pela família -- a
começar da nossa. Todo o mundo destaca a importância da instituição familiar,
mas estranha quando a gente nomeia um parente para trabalhar conosco.
--
Mas o senhor nomeou vinte!
--
Para evitar conflagrações internas! Ou você é a favor de brigas na família?
Esse tipo de discórdia é o pior de todos, pois ocorre entre pessoas do mesmo
sangue.
--
Mas precisava colocar sua esposa na chefia de gabinete?
-- Houve incoerência da mídia na avaliação
desse episódio. Primeiro eles disseram que eu ia pouco ao Congresso, só
“trabalhava” em casa. Depois criticaram a nomeação da minha mulher. Ora, quem
melhor do que ela para supervisionar o meu local de trabalho?
--
Por sinal, dizem que o senhor é muito bem casado. O que o atraiu em sua
esposa?
--
Ela me conquistou com uma declaração.
--
Ah!... Então sob essa casca de homem frio e político escolado pulsa um coração
romântico, que não resistiu a uma declaração de amor!
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Que de amor! De bens! Não resisti à relação patrimonial do pai dela. Essa foi a
minha “flecha de Cupido”.
--
E quanto à causa ecológica? O senhor pretende fazer alguma coisa para combater
o efeito estufa?
--
Na verdade, já estou fazendo. Diminuí a quantidade de cerveja semanal, pois
notei que ela estufava meu estômago e levava à emanação de gases que prejudicam
a qualidade do ar. Aqui em casa, pelo menos, todos passaram a respirar
melhor.
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