domingo, 1 de maio de 2016

Nova entrevista com Propinildo Caixadois

        Propinildo Caixadois, para quem não se lembra, é aquele primo de Justo Veríssimo que se elege deputado há várias gerações. Ele já perdeu a conta de quantas vezes se candidatou (mas não de quanto ganhou durante os mandatos) e vai novamente pleitear uma vaga no Legislativo. 
Conversamos na sacada da sua nova cobertura de cinco quartos, todos suítes, inclusive o da empregada (“É preciso tratar bem os pobres.”). O apartamento foi caríssimo, e ele não sabe se conseguirá quitá-lo (“Isso vai depender da vontade do povo...”). Começo a entrevista:
-- Deputado, qual a sua filosofia de campanha?
-- Meu governo é socialista, mas com uma ligeira adaptação. Transformamos o “Tudo pelo social” em “Tudo pelas socialites”.
-- Pelas socialites? E com que objetivo?
-- Enaltecer o valor dessas bravas e caridosas mulheres. Os chás, almoços e jantares beneficentes que elas promovem melhoram as condições de vida de muita gente.
-- Mas elas pouco se preocupam com o regime!  
-- Aí é que você se engana; o regime é a maior preocupação delas. A maioria vive em dieta. E não são poucas as que arriscam a vida em cirurgias de lipoaspiração para melhorar a silhueta.  
-- Qual a sua plataforma para a educação? O senhor é a favor, por exemplo, do ensino a distância?
-- Plenamente a favor. Para mim, os alunos devem ficar o mais possível distantes do ensino. Livro demais prejudica a inteligência e faz pensar besteira.  
-- E quanto ao nepotismo? Qual a sua opinião?
-- Essa prática tem sido mal compreendida e injustamente criticada. O nepotismo é uma virtude. Ele confirma o apreço que nós, políticos, temos pela família -- a começar da nossa. Todo o mundo destaca a importância da instituição familiar, mas estranha quando a gente nomeia um parente para trabalhar conosco.
-- Mas o senhor nomeou vinte!
-- Para evitar conflagrações internas! Ou você é a favor de brigas na família? Esse tipo de discórdia é o pior de todos, pois ocorre entre pessoas do mesmo sangue.
-- Mas precisava colocar sua esposa na chefia de gabinete?
         -- Houve incoerência da mídia na avaliação desse episódio. Primeiro eles disseram que eu ia pouco ao Congresso, só “trabalhava” em casa. Depois criticaram a nomeação da minha mulher. Ora, quem melhor do que ela para supervisionar o meu local de trabalho?
-- Por sinal, dizem que o senhor é muito bem casado. O que o atraiu em sua esposa?   
-- Ela me conquistou com uma declaração.
-- Ah!... Então sob essa casca de homem frio e político escolado pulsa um coração romântico, que não resistiu a uma declaração de amor!
-- Que de amor! De bens! Não resisti à relação patrimonial do pai dela. Essa foi a minha “flecha de Cupido”. 
-- E quanto à causa ecológica? O senhor pretende fazer alguma coisa para combater o efeito estufa?
-- Na verdade, já estou fazendo. Diminuí a quantidade de cerveja semanal, pois notei que ela estufava meu estômago e levava à emanação de gases que prejudicam a qualidade do ar. Aqui em casa, pelo menos, todos passaram a respirar melhor.  

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