Releio
artigo de Luiz Carlos Maciel sobre o feminismo segundo Yoko Ono. Yoko, todos
sabem, foi mulher e guru de John Lennon. Dizem que ela não se dava bem com Paul
McCartney e concorreu para o fim dos Beatles. Como artista plástica parecia não
ter muita expressão, mas era uma mulher inteligente e avançada. Suas ideias
feministas confirmam isso, embora o avanço que ela propõe nesse terreno seja um
aparente retrocesso.
Yoko
prega uma feminização da sociedade. Para ela não é a mulher, e sim o homem que
deve mudar. Enquanto o feminismo militante defende a igualdade de direitos e
também de ações, o de Yoko não vê sentido em a mulher competir com o homem para
fazer o que ele faz. Isto seria adotar um modelo falido, que enfatiza a
truculência, o instinto bélico, a insensibilidade emocional.
Esse
ponto de vista se aproxima do de Freud, para quem a civilização é fruto de uma
sublimação dos instintos (ou “pulsões”). Sem renúncia instintual, ou seja,
mantendo-se o estado de barbárie primitiva, seria impossível produzir, arte,
ciência, religião. Como os valores agressivos se ligam basicamente à
testosterona, é o homem e não a mulher quem tem de abdicar de parte da sua
natureza. A feminização é não apenas uma estratégia, mas um objetivo para o
qual tende o ser humano rumo a uma sociedade mais pacífica e terna.
Feminizemo-nos,
pois. É fundamental para a nossa permanência na Terra que nos libertemos cada
vez mais de impulsos que nos fazem regredir. Felizmente esse apelo já vem sendo
seguido por muitos homens, que não se envergonham de chorar em público, cuidam
do corpo, escrevem ternos cartões em dias especiais e evitam palavrões
gratuitos.
Mas
isso não significa que o machão esteja desaparecendo. Como toda transição, a do
machismo para a feminização se dá aos poucos.
Ainda se encontram aqui e acolá sólidos redutos onde o machismo resiste
com vigor, numa espécie de nostalgia simiesca que poderíamos chamar de “saudade
da horda”.
Se
o leitor duvida, basta olhar em volta (mas olhe com discrição; o que os machões
mais detestam é ser encarados). É possível reconhecê-los pelo cheiro, pois
raramente se perfumam. É fácil distingui-los na praia, pois machão não se
bronzeia -- assa.
Uma
característica deles é se acompanhar de outro ou mais machões. Esse coleguismo
evoca as antigas caminhadas solitárias por bosques e savanas em busca da caça
ou do inimigo. Podem também se reunir nas academias de ginástica ou em
confrarias sigilosas nas quais não se permite a entrada de mulheres.
Todo
machão que se preza é no fundo um misógino, e tal aversão agora se explica: a
mulher é não apenas o seu oposto, mas o destino para o qual ele evolui. E nada
o assusta mais do que a possibilidade de “virar mulher”.
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